quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Olha o funileeeiro!

Outro dia ouvi em uma rua do bairro: "Olha o funileeeiro!". Em 2011, em plena cidade do Rio de Janeiro, um senhorzinho empurrava seu carrinho, com ferramentas e apetrechos, e anunciava a plenos pulmões sua profissão: "Funileeeiro!"

Funileiro é o profissional que confecciona e repara peças em metal. Hoje, funilaria lembra conserto de carros, os "martelinhos de ouro" que reparam pequenas batidas na lataria. Mas, na minha infância, em uma cidade do interior, funileiro era quem consertava as panelas da minha avó.

As panelas, de alumínio, compradas há muito tempo, eram usadas diariamente na hora do almoço e jantar. Comer fora, em restaurante, só em datas muito especiais. Eram lavadas e caprichosamente areadas, com palha de aço, sabão e muque. Minha avó as colocava para secar numa geringonça que parecia um protótipo da Torre Eiffel. As panelas ficavam à tarde no quintal, pegando sol e refletindo luz.

Quando precisavam de algum reparo - trocar a alça, desamassar a tampa - era só usar os serviços do funileiro.  Ele passava, regularmente, pela rua, gritando "Funileeeiro!" e as donas de casa levavam a panela na rua mesmo, e ali ele fazia o seu serviço. Era mais barato consertar a panela do que comprar uma nova. Não havia essa oferta de hoje de produtos e marcas, o crédito não era tão farto, na cidade não existia loja de departamento com pagamento em 10x sem juros.

As coisas eram feitas para durar naquela época. As panelas. As tradições. Os casamentos. As famílias. Se havia um problema, não se jogava fora, apenas fazia-se um reparo. E a vida seguia adiante, com remendos, mas plena de funcionalidade.

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