sábado, 4 de setembro de 2010

Amigas

É raro encontrar uma amiga. Mais raro ainda mantê-la ao longo da vida.

Às vezes uma amizade nasce quando somos meninas e os interesses são comuns. Com o passar do tempo, surgem as diferenças de valores, de criação, de classe social e, no arrebatamento da adolescência, é raro manter a amizade com quem curtimos os primeiros tempos de sala de aula. Tive uma amiga querida dos oito aos 15 anos, éramos inseparáveis e confidentes. Depois de dois anos estudando no exterior, voltei ao Brasil com a cabeça cheia de ideias e novas experiências. Ela tinha ficado lá, na cidade do interior, numa vida tranquila e bem parecida com a que eu tinha antes de viajar para fazer o high school fora. No nosso reencontro, após aquele estranhamento inicial, logo começamos a conversar, mas algo já havia mudado. Ela queria ir a um show de uma banda pop demais para o meu gosto. Eu a achei infantil e fútil, ela deve ter me achado uma chata. Assim, a amizade morreu, e até hoje ficou uma tristeza em mim por isso. Essa amiga conheceu o que havia de mais puro e simples em mim, a minha infancia.

Tenho conversado muito com minha filha de sete anos sobre a amizade entre meninas. Parece que os meninos se entendem melhor, pegam a bola e saem jogando, quando se estranham resolvem suas diferenças com alguma agressividade, para logo estar tudo bem. Entre as meninas, é diferente. Parece haver mais fofoca, disputa de poder, panelinhas e uma carga significativa de melodrama. Estamos falando de garotas de sete anos ou de qualquer idade?

Porque cada uma de nós tem uma história para contar sobre uma amiga que roubou o namorado, ou o cargo, ou se bandeou para a outra turma; ou de uma amiga que estava ao nosso lado na tristeza, mas não aguentou ver o nosso sucesso. É uma dança das cadeiras da amizade e ninguém quer ficar de pé sozinho no final. Ter uma amiga fiel e leal ao longo da vida adulta é uma dádiva, ter um grupo delas é um presente de Deus. Não estou falando dos conhecidos que tuitam, orkutam e facebookam com a gente. Mas de amigas de verdade - para quem não há tempo nem distância, que nos acolhem quando estamos mal e, mais raro ainda, vibram quando estamos lá no alto, na crista da onda.

No filme Sex and the City, adoro o olhar de Medusa que a normalmente romântica Charlotte lança para o poderoso Big, depois que ele abandona Carrie no casamento, enquanto gentilmente empurra a amiga para dentro do carro. Um olhar de ira e um toque de proteção, a força feminina que nenhum poder masculino consegue apagar.


2 comentários:

  1. Beta, pior que é assim mesmo. Infelizmente eu ainda me surpreendo negativamente com algumas amizades femininas. É muita disputa e inveja. Acho que as amizades com homens tendem a dar mais certo. bjos, Carla Morgado.

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  2. Ei, Carla. É isso mesmo. Então, Vamos cuidar muito bem das nossas amigas de verdade! bj

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